Principais desafios da logística farmacêutica 15 de Novembro, 2019 Rangel Logistics Solutions Logística A indústria farmacêutica é um dos segmentos mais exigentes ao nível da logística, o que se deve, em grande parte, à forte regulamentação do setor. As atualizações frequentes à legislação em vigor e a evolução do mercado determinam alguns dos principais desafios da logística farmacêutica, que tem de estar em constante adaptação a novas restrições ou alterações no setor. Embora complexo, este ramo de atividade continua a ser um dos mais atrativos do ponto de vista do desenvolvimento e da inovação, características intrínsecas da indústria farmacêutica e que se revelam fundamentais para a sua evolução. Os últimos dados disponíveis indicam que o valor do mercado farmacêutico nacional em 2017 era de 3.747 milhões de euros, sendo que a distribuição farmacêutica contribuiu, no mesmo ano, com mais de 218 milhões de euros para o PIB nacional, dos quais 144 milhões de euros com impacto direto na economia, segundo o estudo “Caracterização e Avaliação do Impacto da Distribuição Farmacêutica em Portugal”, desenvolvido pela Deloitte Consultores. Ao longo da última década, o mercado farmacêutico nacional evoluiu tecnológica e organizacionalmente tornando-se mais especializado, no entanto os desenvolvimentos ocorridos trouxeram consigo alguns desafios ao setor farmacêutico, e consequentemente, à logística farmacêutica. As empresas que atuam no segmento da distribuição farmacêutica têm, cada vez mais, de estar atentas às novas necessidades do mercado, satisfazer as necessidades dos clientes e consumidores e atender às exigências estabelecidas pela legislação nacional e internacional. Nesse sentido, e para conseguir oferecer um serviço de excelência e que acrescente valor à cadeia logística, é necessário identificar e avaliar os principais desafios que a logística farmacêutica enfrenta, perspectivando estrategicamente que trilhos seguirá este setor no futuro. Fonte: Armazém Operação Pharma, Rangel Montijo Que desafios logísticos enfrenta a indústria farmacêutica? Atualmente, e quase de forma unânime entre os principais players da distribuição farmacêutica em Portugal, os principais desafios da logística farmacêutica centram-se nos seguintes temas: Estabelecimento de dispositivos de segurança e rastreabilidade para todos os medicamentos sujeitos a receita médica Em resultado de um aumento alarmante na comercialização de medicamentos falsificados, a União Europeia instituiu em 8 de Junho de 2011 a Diretiva 2011/62/EU que previa a implementação de dispositivos de segurança e rastreabilidade para todos os medicamentos sujeitos a receita médica. As formas de autenticação definidas foram a introdução de um Identificador Único e de um Dispositivo de Prevenção de Adulterações, que devem obrigatoriamente constar na embalagem do medicamento conforme, descrito no Regulamento Delegado (EU) 2016/161. Como resultado dessas obrigações, a indústria farmacêutica teve de integrar os sistemas de marcação e serialização de embalagens nos seus processos de produção, impactando, também, as operações diárias de logística e distribuição farmacêutica, uma vez que, nesta fase da cadeia de abastecimento, também é exigido o controlo dos medicamentos. O cumprimento destas diretivas europeias, por parte das empresas de distribuição, cria a necessidade de implementação de soluções tecnológicas que permitam a verificação diária dos medicamentos que entram em distribuição, obrigando a um investimento no desenvolvimento das novas soluções. Patient centricity e last mile delivery De acordo com o 1º Barómetro da Indústria Farmacêutica em Portugal, publicado na edição 104 da revista Marketing Farmacêutico, atualmente, um dos principais desafios da logística farmacêutica passa pelo Patient Centricity, alertando os stakeholders para a necessidade de prestar atenção à alteração no padrão de consumo do paciente. Como acontece em vários outros setores de atividade, o consumidor final procura cada vez mais a comodidade que, neste caso, se traduz através da possibilidade de compra online e na entrega em casa ou no trabalho – last mile delivery. De acordo com o mesmo estudo, o mercado farmacêutico nacional parece estar ainda a despertar para a importância de apostar na entrega final do produto ao cliente, apesar de referir que a forte regulamentação existente e os métodos tradicionais de negócio, que estão ainda bastante enraizados no setor, possam ter contribuído para o desinteresse na “última milha”. No sentido de contrariar esta tendência, este é o momento da cadeia logística farmacêutica criar valor para o cliente final, isto é, colocar o doente/paciente/consumidor no epicentro do negócio, repensando a abordagem ao desafio da “última milha”. Num mercado em que 90% das dispensas de prescrições são efetuadas nas farmácias, há um enorme potencial de crescimento deste segmento nos próximos anos e as empresas que se souberem posicionar para fornecer uma resposta adequada e eficaz têm grande probabilidade de liderar no futuro. Não obstante, é necessário ter em conta a forma como a indústria farmacêutica fará esta transição sem estrangular o habitual canal de distribuição (farmácias), que continua a entregar valor ao cliente final através do atendimento e aconselhamento personalizado, fator que se perde na transposição para o digital/ecommerce. O desafio para o setor está em conseguir articular a digitalização do serviço com a entrega de valor acrescentado. Digitalização do setor capitalizando as potencialidades da Indústria 4.0 De acordo com o estudo “Caracterização e Avaliação do Impacto da Distribuição Farmacêutica em Portugal”, desenvolvido pela Deloitte Consultores, a transformação digital é um dos principais desafios que a cadeia de abastecimento farmacêutica atravessará e será crucial para a evolução e sustentabilidade do setor. Nos últimos anos, um conjunto de pressões significativas têm vindo a transformar o setor da saúde em Portugal, desafiando o modelo de operação e a cadeia de valor atual. A evolução tecnológica e a transformação digital é uma realidade e impactará de forma positiva a logística farmacêutica, capitalizando as potencialidades da Indústria 4.0 para mitigar alguns dos embargos atuais do setor. A complexidade da cadeia de abastecimento farmacêutica colocava, até há alguns anos atrás, dificuldades acrescidas às empresas de distribuição farmacêutica, nomeadamente no que diz respeito à necessidade de: garantir a rastreabilidade completa e eficaz ao longo de toda a cadeia de abastecimento; assegurar a qualidade do produto e a eficiência da distribuição;alterar o comportamento e expectativas dos consumidores;responder à pressão sobre sistemas de saúde para racionalização dos gastos e a polarização dos preços dos medicamentos; O surgimento da Internet of Things (IoT), a implementação de tecnologias emergentes como o Data Analytics, Inteligência Artificial (IA) e o Blockchain, permitem analisar e tratar dados sobre processos, produtos e pacientes, fornecendo uma visão mais completa e integrada de ponta a ponta da cadeia de abastecimento, partilhada e acessível entre todos os stakeholders. Em particular, as tecnologias Blockchain e IoT aplicadas à logística farmacêutica permitirão continuidade na partilha de dados, contribuindo para a redução de riscos operacionais, assegurando fluxos globais contínuos, confiáveis e invulneráveis. Ou seja, agregam valor à cadeia de abastecimento, ampliando a capacidade de controlo e verificação dos fluxos provenientes de fornecedores, possibilitando um sistema de rastreamento confiável e partilhado com benefícios significativos para o consumidor/paciente, como por exemplo, aceder à monitorização em tempo real das condições de transporte (temperatura, hora, localização), consultar a origem do medicamento e rastrear o processo de fabrico. A tecnologia Blockchain, representa um ativo importante no setor da saúde, uma vez que a sua implementação contribuirá para atenuar os pontos mais críticos da cadeia de abastecimento, como a rastreabilidade, a conformidade, a flexibilidade e a articulação entre os stakeholders do setor. Recentemente, o Robert Gaertner, diretor na Veeva Systems, uma empresa de serviços de cloud focada no desenvolvimento de aplicações para a indústria farmacêutica, defendeu que “a colaboração entre stakeholders baseada na cloud, aumenta a produtividade e a transparência e reduz os riscos ao longo da cadeia de abastecimento no ramo da saúde.” É inegável que a tecnologia Blockchain desempenhará um papel importante na otimização dos processos da cadeia de abastecimento, no entanto, existem ainda alguns entraves (principalmente limites tecnológicos e de regulamentação) que têm de ser ultrapassados para que a sua implementação seja realmente eficiente e a sua contribuição positiva. Os desafios que a logística farmacêutica enfrentará nos próximos anos levarão a uma transformação dos modelos de gestão da cadeia de abastecimento, mas também à transformação da cadeia de valor. A complexidade da cadeia logística e a forte regulamentação do setor podem ser os principais obstáculos para as empresas. No entanto, de acordo com a visão estratégica de vários estudos realizados neste setor, os desafios que se colocam atualmente à logística farmacêutica podem ser aproveitados pelas empresas como oportunidades para o futuro. Para tal, as empresas devem focar a sua atenção nas necessidades atuais do mercado, procurando munir-se da tecnologia e conhecimentos exigidos para dar resposta às tendências atuais. Referências Bibliográficas: A Indústria Farmacêutica em Números 2017, Associação Portuguesa da Indústria FarmacêuticaCaracterização e Avaliação do Impacto da Distribuição Farmacêutica em Portugal, Deloitte Consultores, abril de 2019Farmácia: Resposta aos desafios do setor com um WMS, Supply Chain Magazine Online, setembro de 20195 Trends Impacting the 2019 Pharmaceutical Supply Chain, Datex Online, consultado em 15 de novembro de 2019Why Supply Chain Transparency and Data Integrity are Crucial for Pharma Quality, Manufacturing Chemist, setembro de 2016Temperature Data Integrity and Security along the Pharmaceutical Supply Chain, Pharmaceutical Outsourcing Online, setembro de 2019When two chains combine, Supply chain meets blockchain, Deloitte Consultores, 2017Rethinking the Pharma Supply Chain With Blockchain, 23 Consulting, julho de 2018Como Blockchain e IoT agregam valor ao gerenciamento do supply chain, TI Inside Online, outubro de 2019 Etiquetas:indústria farmacêutica Partilhar no Facebook Partilhar no Twitter Partilhar no LinkedIn
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