Nearshoring: o que é e quais são os seus benefícios?

Nearshoring: o que é e quais são os seus benefícios?

A crise pandémica de COVID-19 expôs, sem dúvida, as fragilidades das cadeias de abastecimento globais. As interrupções na produção e no transporte de mercadorias, causadas pelos lockdowns sucessivos, principalmente na China, impactaram a disponibilidade de produtos em muitos mercados. Além disso, a dependência excessiva de fornecedores geograficamente distantes tornou as cadeias de abastecimento mais vulneráveis a interrupções repentinas. Perante este cenário, o nearshoring emergiu como uma alternativa para incrementar a resiliência da supply chain.

Neste artigo exploramos, então, o que é o nearshoring, quais são as suas vantagens e os motivos que continuam a impulsionar esta mudança estratégica.

Do offshoring ao nearshoring

Nas últimas cinco décadas, assistimos a um verdadeiro florescimento do comércio global de bens. Avanços tecnológicos em áreas como o transporte marítimo, a aviação comercial e as telecomunicações, assim como a adoção internacional de políticas de comércio livre, facilitaram este processo de globalização comercial, por meio da deslocação rápida e célere de mercadorias em todo o mundo.

Com a procura por soluções para poupar custos e ganhar escalabilidade operacional, muitas organizações recorreram a países estrangeiros para externalizar as suas atividades. Por exemplo, a Índia tornou-se popular no setor da tecnologia, uma vez que combina trabalhadores qualificados com salários inferiores. Por sua vez, a China destacou-se na produção industrial, com uma força de trabalho menos qualificada, mas com rendimentos baixos.

Esta estratégia, conhecida como offshoring — deslocalização de operações de negócios para um país diferente, geralmente em desenvolvimento, com mão de obra barata, regulamentação flexível e incentivos ao investimento —, constitui uma solução económica, mas com algumas desvantagens.

Um dos principais desafios prende-se, decerto, com a barreira linguística e a distância geográfica. Pode, afinal, resultar em desafios de comunicação, coordenação e controlo de qualidade. As longas distâncias contribuem, além disso, para a complexidade logística — transporte, tempos de entrega e coordenação da cadeia de abastecimento — e apresentam um impacto ambiental significativo, devido às emissões de gases e ao consumo de recursos naturais.

Similarmente, as empresas podem enfrentar críticas pelas condições de trabalho precárias e pela falta de investimento em práticas de sustentabilidade, devido a regulamentações menos rigorosas.

Nos últimos anos, fruto de uma combinação de choques geopolíticos, mudanças nas estratégias empresariais e, igualmente, nos valores sociais, existe uma prática empresarial que tem vindo a ganhar terreno: o nearshoring.

Afinal, o que é o nearshoring?

O nearshoring é uma estratégia empresarial que envolve a transferência de operações de negócios para países próximos geograficamente, em vez de escolher locais mais distantes (como ocorre no offshoring).

Estar mais próximo dos mercados consumidores pode, certamente, reduzir os tempos de entrega, mitigando os riscos associados a interrupções no transporte internacional e garantindo um fornecimento mais estável de produtos essenciais.

Quais são as principais vantagens do nearshoring?

Subjaz a este modelo um conjunto vasto de benefícios para as organizações, a saber:

  • Redução dos custos de transporte: a proximidade geográfica aos mercados de consumo permite às empresas poupar recursos na movimentação de produtos, incluindo frete marítimo, aéreo ou terrestre;
  • Maior agilidade e flexibilidade: um dos benefícios do nearshoring é que viabiliza uma resposta mais célere às flutuações da procura, possibilitando ajustes mais rápidos e eficazes na produção e na resposta aos clientes;
  • Menos riscos na cadeia de abastecimento: a diversificação da base de fornecedores, assim como a redução da dependência relativamente a regiões distantes, pode mitigar os riscos associados a interrupções na cadeia de abastecimento, decorrentes de desastres naturais, instabilidade política ou pandemias, a título ilustrativo;
  • Maior controlo de qualidade: a manutenção das operações mais próximas permite aumentar o controlo sobre a qualidade das mercadorias e assegurar a conformidade regulatória, facilitando a supervisão e a implementação de padrões elevados;
  • Aprimoramento da resposta ao cliente: o nearshoring reduz os tempos de entrega e garante uma maior eficácia e rapidez no atendimento aos problemas dos consumidores;
  • Sustentabilidade: ao reduzir as distâncias percorridas, é possível diminuir as emissões de carbono associadas ao transporte, apoiando assim os objetivos de sustentabilidade das empresas.

Que fatores estão a impulsionar a adoção do nearshoring?

Embora uma parte substancial das empresas pretenda manter a sua produção na Ásia, alguns negócios estão a começar a repensar esta estratégia. De acordo com o estudo Supply Chain Strategies and Nearshoring Opportunities in the Americas, da  U.S. Chamber of Commerce, uma em cada quatro empresas (28%) que têm, atualmente, as suas unidades industriais localizadas na Ásia pretendem sair da região nos próximos cinco anos.

Esta decisão pode dever-se a um conjunto bastante diverso de motivos, como, por exemplo:

Perturbações na supply chain

O encerramento das principais unidades de produção na China e as paralisações nos principais portos marítimos (Xangai, Yantian e Ningbo), na sequência da pandemia de COVID-19, conduziu a uma escassez global de bens. Este quadro desembocou, sem dúvida, num significativo incremento do tempo e do custo das entregas.

Por conseguinte, muitas empresas começaram a equacionar a implementação de estratégias de nearshoring, visando diversificar os seus fornecedores e reduzir os riscos de choque na cadeia de abastecimento.

Custo do trabalho mais elevado

Aquele que era um dos fatores mais atrativos na estratégia offshoring está cada vez mais dissipado. Desde que a China aderiu à Organização Mundial do Comércio (OMC), em 2001, o preço da mão de obra aumentou cerca de 250%. Por exemplo, nos Estados Unidos da América (EUA) registou um incremento de menos de 30%. Apesar de os salários se manterem abaixo dos valores praticados em países do ocidente, a diferença já não é tão expressiva ao considerar outros fatores.

Transporte mais dispendioso

O transporte é uma das despesas mais expressivas das empresas. As disrupções na cadeia de abastecimento, causadas pela pandemia, e a subsequente inflação mundial têm colocado pressão adicional sobre esses custos. Consequentemente, muitas empresas estão a reavaliar as suas estratégias e a contemplar alternativas, como o nearshoring, para reduzir a dependência de supply chain globais e mitigar esses encargos crescentes.

Regulamentações laborais mais apertadas

Nos últimos anos, muitos países da Ásia estão a adotar regulamentações mais rigorosas no que concerne à segurança no trabalho, ao bem-estar dos trabalhadores e à proteção ambiental. Isto torna, decerto, as operações mais caras e menos flexíveis.

Crescentes tensões geopolíticas

Perante os crescentes desafios económicos e as tensões geopolíticas que pautam o quadro atual, os governos estão a adotar medidas mais protecionistas. Fazem-no, por exemplo, através da atribuição de subvenções e incentivos fiscais à sua indústria, bem como pela implementação de barreiras à movimentação de bens importados de alguns países. Caso disso são as tarifas aduaneiras impostas pelos EUA à China, que, desde 2018, estão a impactar todo o comércio internacional.

Sustentabilidade na ordem do dia

A mudança de mentalidade dos consumidores está a pressionar os fabricantes a adotar medidas ambiental e socialmente conscientes e a repensar as cadeias de abastecimento globalizadas. Assim, as práticas ESG (Environmental, Social, and Corporate Governance) têm ocupado um lugar de destaque na hora de definir estratégias. Segundo um estudo da PWC, realizado em 2021, 80% dos investidores consideravam o risco ESG importante na tomada de decisões de investimento e 50% estavam dispostos a desinvestir em empresas que não adotassem medidas suficientes nesta matéria.

Neste capítulo, o Nearshoring Index Rank, da Savills, revela que os mercados tradicionais de offshoring apresentam, normalmente, reduzido desempenho em termos de normas ambientais e de proteção laboral. Portanto, a decisão de aproximar a produção às regiões consumidoras é cada vez mais pensada pelos decisores.

Portugal: um país atrativo para o nearshoring

A transição de um modelo offshoring para o nearshoring está a impactar o cenário global de investimentos e de produção. De acordo com o Nearshoring Index Rank, os países com rendimentos e padrões sociais mais reduzidos estão a perder terreno para países com rendimentos e padrões ESG mais elevados.

Nesse sentido, Portugal é o segundo país mais atrativo para instalar indústrias numa lógica de nearshoring, atrás da República Checa e à frente de países como Áustria, Taiwan, Reino Unido, Japão, Canadá, Finlândia, Polónia ou Suécia. Isso deve-se a uma combinação de fatores, como custos mais baixos, em comparação com outras economias ocidentais, e boas credenciais ESG, relativamente às que se verificam nas economias em desenvolvimento. Se está a pensar em adotar uma estratégia nearshoring, a Rangel disponibiliza um conjunto alargado de soluções logísticas — desde o armazenamento até ao transporte —, para apoiar as organizações na otimização das suas operações. Conte com uma equipa experiente e rigorosa para responder ao seu desafio logístico. Contacte-nos!

FONTES:
Savills. “Can nearshoring solve supply chain resilience?”. Acedido a 16 de maio de 2024.
U.S. Chamber of Commerce. “Supply Chain Strategies and Nearshoring Opportunities in the Americas”. Acedido a 16 de maio de 2024.
Deloitte. “Nearshoring in Central America”. Acedido a 16 de maio de 2024.
Eco. “Portugal é o segundo país mais atrativo do mundo para nearshoring na indústria”. Acedido a 16 de maio de 2024.
Thomson Reuters. “Nearshoring to Mexico: Perspectives and Opportunities for a Resilient Supply Chain”. Acedido a 16 de maio de 2024.
Cushman & Wakefield. “Industrial Evolution: Nearshoring”. Acedido a 16 de maio de 2024.