Logística de Moda: Principais Desafios

Logística de Moda: Principais Desafios 1

Nos últimos anos, a Indústria Têxtil e de Vestuário (ITV) portuguesa tem registado um crescimento sustentado devido, essencialmente, ao sucesso registado nos mercados internacionais, o que traz, por arrasto alguns desafios à logística de moda. Espanha, França, Alemanha, Reino Unido, Estados Unidos da América, Itália e Países Baixos, são os principais mercados da indústria têxtil portuguesa, que representa aproximadamente 3% do PIB e 10% do total das exportações portuguesas.

Principais Mercados das Exportações Portuguesas de Têxteis
Fonte: INE e da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal (ATP)

A criatividade, o design, a qualidade e a inovação inerentes ao setor têm contribuído para o seu reconhecimento além fronteiras, posicionando a ITV como uma referência a nível internacional. São várias as empresas e marcas de renome mundial na indústria que procuram Portugal para produzir as suas coleções, pois reconhecem a qualidade, a fiabilidade e a capacidade da mão de obra portuguesa. A título de exemplo, marcas como a Burberry, a Kenzo, a Dior e a Inditex (grupo da Zara), escolhem fábricas portuguesas para produzir as suas coleções.

Atualmente, a Indústria Têxtil e de Vestuário nacional exporta cerca de 80% da sua produção, o que coloca alguns desafios logísticos a esta indústria, especialmente nos segmentos do vestuário e confeção.

O surgimento das grandes marcas de retalho, as chamadas fast-fashion, e a crescente digitalização da indústria da moda a nível internacional, instalou uma verdadeira revolução no setor. A moda de consumo fomentou a apresentação de temporadas mais curtas e frequentes, afastando-se do tradicional calendário de duas coleções por ano.

Este ajuste permite às empresas do setor: por um lado, acompanhar as tendências voláteis da indústria da moda e adaptar-se facilmente às exigências dos mercados, e por outro, permite-lhes um controlo mais eficiente do stock.

Desafios da logística de moda B2B e B2C

Apesar de permitir maior controlo do stock e um acompanhamento quase imediato das tendências internacionais, o ritmo acelerado que se vive nos dias de hoje na indústria da moda traz vários desafios logísticos ao setor, quer às empresas que produzem para marcas ou retalhistas, quer para as marcas que vendem diretamente ao consumidor final. 

Os desafios da logística de moda, dividem-se, essencialmente, em dois segmentos: logística de armazenagem e transporte.

Logística de Armazenagem

O armazenamento na indústria da moda assume-se como um grande desafio principalmente para as marcas que vendem diretamente ao consumidor final (B2C), uma vez que, no caso das empresas que produzem para retalhistas ou marcas (B2B), a necessidade de armazenagem e gestão de stocks não são aspetos tão críticos. O que acontece nestes casos, e na grande maioria das situações, é que assim que as fábricas terminam a produção das coleções, as mesmas são entregues quase de imediato ao retalhista ou à marca.

No caso das marcas, que atuam no segmento B2C – através da sua própria rede de lojas físicas, loja online, ou outros canais de distribuição – a logística de armazenagem pode revelar-se um verdadeiro desafio.

A indústria da moda apresenta várias particularidades e necessidades específicas quando se fala em armazenamento, uma vez que tem de ser ajustado às complexidades e exigências dinâmicas do setor. Atualmente, as marcas têm de estar aptas a lidar com a “nova lei” da procura, que exige maior flexibilidade e melhor nível de serviço. Na maior parte dos casos, a logística não é exequível dentro de portas, seja por carência de espaço, ausência de recursos ou capacidade de resposta.

A logística de armazenagem para a indústria da moda requer o know-how e experiência de alguns anos no setor, para que seja possível oferecer ao cliente final uma experiência completa e integrada. Nesse sentido, são cada vez mais as marcas que procuram parceiros logísticos, capazes de assegurar serviços de valor acrescentado, tais como: etiquetagem, sortimento, embalamento, picking, controlo de qualidade, gestão de stock e preparação e entrega de encomendas.

A opção pela externalização logística neste setor permite não só a redução e controlo de custos operacionais, assim como beneficiar de maior flexibilidade e escalabilidade, menor risco, menor investimento e maior capacidade de acompanhar a evolução tecnológica e de implementar as melhores práticas logísticas.

Transporte

O transporte é um elemento de extrema importância no fluxo logístico da indústria da moda, seja para as empresas que fabricam para marcas ou retalhistas, ou para as marcas que vendem diretamente ao consumidor final.

Tendo em conta a diversidade de mercados e as novas exigências do setor, nomeadamente em tempos de produção e colocação das peças nas lojas, encontrar um parceiro logístico que seja capaz de responder às especificidades da indústria fashion é uma prioridade.

No caso das empresas que produzem para retalhistas ou marcas (B2B), a relevância do serviço de transporte prende-se, essencialmente, com a necessidade de cumprir prazos de entrega. Em Portugal, por exemplo, uma grande parte das empresas ligadas ao setor têxtil produzem para marcas internacionais, pelo que necessitam de enviar as peças produzidas para as marcas ou retalhistas, por vezes, em tempo recorde e para vários pontos da Europa e do Mundo.

Quanto às marcas ou empresas que vendem diretamente ao consumidor final (B2C), o desafio em termos de soluções de transporte de moda pode ser ainda maior, pois nestes casos colocam-se duas situações: o abastecimento das lojas e a entrega ao cliente final.

Relativamente ao abastecimento das lojas, a indústria da moda requer soluções de transporte especializado, com recolha e distribuição porta-a-porta, nacional e internacional e com flexibilidade nas rotas, uma vez que este tipo de distribuição passa muitas vezes por centros comerciais, outlets e zonas pedonais.

A forma como são acondicionadas as peças de roupa para distribuição também apresenta particularidades, sendo muitas vezes necessário o transporte de peças penduradas, para abreviar o tempo de entrega e disponibilização ao público, uma vez que a peça chega “pronta a usar”, sem necessidade de desembalar, engomar e pendurar. As embalagens utilizadas nestas situações, têm de ser desenvolvidas especialmente para esta finalidade, tornando-se fundamental para as marcas encontrar um parceiro logístico que assegure estas respostas.

No que diz respeito à entrega ao consumidor final, que é cada vez mais exigente em termos de prazos de entrega e qualidade do serviço, os desafios também são vários, desde a preparação, embalamento e entrega da encomenda dentro prazo estipulado, às devoluções e logística inversa.

Deslocalização dos hubs logísticos: o novo paradigma da indústria da moda

Nos últimos anos, temos vindo a assistir a um comportamento padrão entre as marcas da indústria da moda, especialmente entre as insígnias do segmento médio-alto, com a deslocalização das unidades de produção (sourcing) para geografias mais próximas dos mercados de consumo. Fruto deste fenómeno, as empresas têm vindo, também, a deslocalizar os seus hubs logísticos para os países de fabrico e/ou principais fornecedores de relevo.

Esta deslocalização dos centros logísticos, associada à procura e contratação de um operador logístico especializado é cada vez mais uma opção para as marcas de moda e lifestyle, e apresenta algumas vantagens, nomeadamente:

  • a redução dos tempos de trânsito, uma vez que as peças produzidas estão mais próximas dos mercados de consumo e seguem já devidamente acondicionadas e segmentadas de acordo com o destino final;
  • a diminuição dos custos associados à logística e transporte, eliminando rotas/etapas que anteriormente eram necessárias devido à distância entre o centro logístico e o retalho.

Portugal tem vindo a assumir uma posição preponderante como hub logístico para a indústria da moda, e em específico para as as marcas do segmento médio-alto, fato justificável pela já referida qualidade de mão de obra reconhecida internacionalmente associada ao preço competitivo que apresenta.

Os desafios da logística de moda estão intimamente ligados à nova era que se vive na indústria, que está em constante mutação. Os prazos de entrega apertados, o fluxo logístico entre produção-marcas-lojas, as devoluções, a distribuição para os diferentes canais de vendas, são as principais dificuldades que o setor da moda enfrenta.

Cada vez mais, as empresas, marcas e retalhistas despertam para a necessidade de encontrar parceiros logísticos capazes de assumir uma resposta célere, com a qualidade que a indústria da moda exige. A procura e opção por soluções logísticas específicas para atender às exigentes necessidades deste setor, permite às empresas e marcas o foco total no core business, ao mesmo tempo que asseguram uma cadeia logística mais eficiente.

Referências Bibliográficas:
Indústria Têxtil e de Vestuário: Uma referência a nível mundial; Revista Portugal Global, AICEP, Edição 113, Outubro de 2018

Comentários
  • Com uma procura cada vez mais elevada e com a necessidade de entregas cada vez mais rápidas, como é que garantimos que uma fábrica produz a tempo para entregar no momento certo? Como é que garantimos que a matéria prima chega a horas às nossas fábricas para podermos produzir? Eu percebo o foco entre fábrica->cliente, mas como é que podemos garantir um determinado nível de serviço entre fornecedor->fábrica? Isto porque não podemos ter um stock de matéria
    prima infinito e com fornecedores espalhados por todo o mundo, torna-se complicado gerir cada relação…
    Já agora, parabéns pelo artigo!

    • Cara Cláudia Campos,

      Agradecemos o seu comentário.
      Com a crescente competitividade no mercado, o resourcing da matéria prima e demais componentes torna-se de facto um elo importante na cadeia produção.
      Se a grelha de fornecedores for múltipla e transcontinental, implicando várias commodities de transporte e fornecedores localizados em origens distintas, a melhor gestão que concilie a gestão de stock e infeeder (abastecimento à linha) de produção passa por um plano de transporte que garanta rapidez e stock on transit, associado ao melhor custo.
      Para isso a Rangel disponibiliza um serviço de Order Management Control que garante que em função das encomendas, fornecedores, quantidades e respetivos prazos de entrega, todos os passos da cadeia de abastecimento conciliam a incorporação da matéria prima em produção. Tudo isto se traduz na escolha da melhor commodity e transporte ao melhor custo possível, privilegiando o stock in transit.
      Teremos todo o gosto em falar consigo relativamente a este tema e compreender de que forma poderemos apoiar a sua empresa.

      Votos de uma excelente semana!

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