Impacto das políticas protecionistas no comércio global

Qual é o impacto das políticas protecionistas no comércio internacional?

Os maiores blocos económicos têm estado num jogo de parada e resposta no que concerne às suas políticas comerciais. Aliás, o número e a dimensão das tarifas têm crescido, abrangendo cada vez mais produtos. Ao mesmo tempo, após a pandemia, as maiores potências definiram como prioridade reavivar setores estratégicos, de forma que fossem mais autónomas. Mas qual o impacto destas políticas protecionistas no comércio internacional?

Algumas instituições — como o Fundo Monetário Internacional (FMI) ou a Conferência das Nações Unidas sobre o Comércio e o Desenvolvimento (UNCTAD), por exemplo — têm alertado para o risco desta estratégia económica. Não obstante, as trocas de bens e serviços entre os blocos têm, para já, dado sinais de resiliência.

Quais são, então, as perspetivas para o comércio internacional?

Os últimos relatórios do FMI sublinham que o comércio global apresenta sinais de recuperação. Assim, esta instituição projeta um crescimento anual da economia mundial para 2024 e 2025, de 3,2% e 3,3%, respetivamente. Ainda assim, o Fundo não deixa de notar que as restrições ao comércio internacional estão a aumentar.

Apesar do otimismo moderado para a evolução do comércio internacional, o FMI nota já entraves na dinâmica do comércio entre os blocos mais distantes. Aliás, as pressões geopolíticas — marcadas pelas guerras na Ucrânia e no Médio Oriente, ou pelas tensões entre a China e Taiwan — encerram um elevado potencial de contagiar as trocas comerciais.

Desse modo, vários decisores governamentais têm feito pender a balança para o lado das políticas protecionistas. O objetivo passa, pois, por mitigar a dependência entre blocos rivais e, em simultâneo, estimular o seu próprio crescimento económico.

Com efeito, tanto a União Europeia como os Estados Unidos da América (EUA) e a China têm seguido este guião.

A caixa de ferramentas das políticas protecionistas

Mas, afinal, o que é o protecionismo? Este tipo de políticas pode definir-se como um conjunto de orientações estratégicas e ações governamentais guiadas pelo desiderato de restringir o comércio internacional, protegendo assim as empresas e os empregos da concorrência estrangeira. Como vimos, estes princípios procuram reduzir défices comerciais e garantir a segurança nacional, diminuindo a dependência relativamente a entidades rivais.

As políticas protecionistas tendem, então, a incluir as seguintes medidas:

  • Subsídios — os governos podem conceder grandes incentivos financeiros e fiscais às empresas nacionais. Desse modo, conseguem baixar os custos de produção. Assim, tornam-se, artificialmente, mais competitivas e conseguem colocar bens no mercado a preços mais baixos do que a concorrência internacional;
  • Tarifas — os legisladores podem, ainda, agravar a tributação sobre produtos vindos de outras geografias. Com efeito, pode ajustar-se o valor das tarifas consoante o país ou o tipo de produto que se importa. Este tipo de políticas visa proteger os setores nacionais estratégicos;
  • Quotas — esta é outra das armas das políticas protecionistas. Os governos podem definir um limite máximo da importação para determinado bem ou serviço oriundo de uma ou mais geografias;
  • Desvalorização da moeda — para tornarem os seus próprios produtos mais baratos, e encarecerem os bens provenientes de mercados externos, os países também podem, através da política monetária, desvalorizar a sua moeda. Em teoria, esta medida permite incentivar as exportações e dificultar as importações.

Não obstante, convém referir a existência de acordos, de escala global, que regulam a forma como estas armas podem ser utilizadas. Ainda assim, os anos mais recentes têm sido férteis em queixas das maiores potências económicas junto da Organização Mundial do Comércio (WTO), acusando os rivais de fintarem as regras do jogo.

As vantagens e desvantagens das políticas protecionistas

À primeira vista, a adoção de medidas protecionistas pode ajudar a estimular o tecido corporativo e a economia interna. Aliás, esta estratégia pode ser uma proteção fundamental para pequenas empresas.

Similarmente, as políticas protecionistas tendem a servir de escudo a setores considerados fundamentais, visando diminuir a dependência externa em áreas críticas e reforçar a autonomia estratégica das economias.

No entanto, existe um reverso da moeda. Geralmente, quando um bloco económico robustece o seu nível de protecionismo, as demais economias respondem com medidas semelhantes. Assim, revela-se crucial atentar no risco de as políticas protecionistas restringirem o comércio internacional e tirarem ímpeto à economia global.

Além disso, a adoção de políticas protecionistas demasiado rígidas pode conduzir ao isolamento de uma economia. Este facto acabará por refletir-se na capacidade de inovação das empresas e, também, no incremento do custo dos produtos nesses mercados. Por exemplo, durante a Grande Depressão da década de 1930, as tarifas criadas pelos EUA, para protegerem a sua economia, levaram a uma travagem nas trocas comerciais com outros países, agravando a recessão.

Os impactos do regresso às grandes políticas industriais

Durante a pandemia de COVID-19, as cadeias logísticas sofreram múltiplos constrangimentos e paralisações, comprometendo assim o funcionamento da economia mundial. Essas dificuldades levaram alguns dos maiores blocos económicos a apostarem em ambiciosas políticas de industrialização, procurando reduzir a sua vulnerabilidade e, em simultâneo, estimular os seus mercados. Foi o caso da União Europeia, dos EUA e da China, por exemplo.

Essas políticas industriais apresentam várias implicações para o comércio mundial e para o vital exercício de gestão da supply chain das empresas. De acordo com a UNCTAD, são múltiplas as consequências destas políticas, como:

  • Concentração da oferta — as maiores potências mundiais já controlam as mais importantes e valiosas cadeias de valor globais. Como tal, caso reforcem os subsídios às suas próprias empresas, corre-se o risco de os bens essenciais para setores estratégicos ficarem concentrados ainda em menos países;
  • Fragmentação do comércio mundial — uma corrida aos subsídios pode levar a uma fragmentação do comércio entre os principais países fornecedores. Isso poderá, sem dúvida, apresentar reflexos nas atuais dinâmicas das cadeias de valor globais;
  • Incerteza e aumento dos custos — as ações unilaterais tomadas sob a forma de políticas protecionistas e industriais podem distorcer as relações comerciais e suscitar respostas de outros blocos económicos. Dessa forma, podem marcar o tiro de partida numa corrida protecionista que tenha como consequência a incerteza nas trocas comerciais, provocando um aumento generalizado de custos.

Em que ponto estamos?

Em síntese, os dados mais recentes mostram que as trocas comerciais internacionais estão a crescer. Porém, as maiores potências económicas têm adotado uma retórica mais agressiva — tanto do ponto de vista geopolítico como na dimensão comercial.

Pois bem, esta nova realidade leva a um substancial incremento do risco associado à implementação de medidas unilaterais, que podem desencadear ações retaliatórias. Este quadro pode, então, desembocar no enfraquecimento da regulação atual do comércio global.

Esse cenário aumentaria a complexidade do tabuleiro em que as empresas operam, criando assim incerteza em relação aos custos e ao acesso a bens essenciais para a manutenção das suas cadeias de valor. Além disso, a expansão para novos mercados poderia tornar-se uma tarefa mais complicada e onerosa.

Como podem as empresas preparar-se para contornar as políticas protecionistas?

Tendo em conta a incerteza que paira sobre as organizações (em múltiplas frentes), a implementação de estratégias para reforçar a resiliência das cadeias de abastecimento revela-se, decerto, incontornável. Mas, afinal, que tipo de medidas seguir para enfrentar este cenário?

Segundo o McKinsey Global Institute, os líderes empresariais devem equacionar, pelo menos, três aspetos basilares, a saber:

1. Recolher informação

Conhecer a fundo as cadeias de abastecimento é, certamente, crucial. Há estudos que apontam que apenas 2% das empresas têm clareza sobre a base da supply chain a partir do segundo nível.

Ora, a meticulosa análise (e constante avaliação) das conexões que se estabelecem em todas as fases da cadeia fornece informações essenciais para aferir o seu grau de eficiência e resiliência.

2. Antecipar cenários

Alicerçadas na recolha de dados concernentes às suas operações, as organizações devem criar múltiplos cenários que lhes permitam antecipar eventuais problemas e disrupções. Os avanços da tecnologia, relativamente às capacidades de análise preditiva (recorrendo às potencialidades ímpares da inteligência artificial generativa, por exemplo), revelam-se cada vez mais fulcrais neste âmbito.

Desse modo, as empresas podem evitar as consequências nefastas de mudanças e choques imprevistos nas suas operações comerciais — nomeadamente, no que diz respeito à implementação de políticas protecionistas em determinadas geografias.

3. Preparar um portfóliode ações estratégicas

Dispor de boa informação e de um planeamento de cenários robusto permite desenhar, antecipadamente, medidas e estratégias a executar, de forma rápida e ágil, sempre que se revele necessário.

Neste leque de ações preventivas, podem, pois, incluir-se rotas de transporte alternativas, a manutenção de stocks de segurança, a diversificação de fornecedores e de mercados ou a exploração de novas parcerias estratégicas, a título ilustrativo.

Para enfrentar os desafios do futuro, incluindo as repercussões das políticas protecionistas, o estabelecimento de parcerias com operadores logísticos experientes e reputados revela-se decisivo. Norteadas por rigorosos padrões de excelência, as soluções logísticas da Rangel asseguram uma resposta eficaz e personalizada às necessidades específicas — atuais e futuras — do seu negócio. Contacte-nos!

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Fundo Monetário Internacional (FMI). “Protectionism could make the world less resilient, more unequal, and more conflict-prone”. Acedido a 2 de outubro de 2024.
Washington International Trade Association (WITA). “De-globalization, International Trade Protectionism, and the Reconfigurations of Global Value Chains”. Acedido a 2 de outubro de 2024.
Dun & Bradstreet. “Global Trade Under the Shadow of Protectionism Policies”. Acedido a 2 de outubro de 2024.
European Centre for International Political Economy (ECIPE). “EU Autonomy, the Brussels Effect, and the Rise of Global Economic Protectionism”. Acedido a 2 de outubro de 2024.
Fundo Monetário Internacional (FMI). “Global growth broadly unchanged amid persistent services inflation”. Acedido a 2 de outubro de 2024.
Conferência das Nações Unidas sobre o Comércio e o Desenvolvimento (UNCTAD). “Global trade recovers, but unevenly”. Acedido a 2 de outubro de 2024.
McKinsey Global Institute. “Geopolitics and the geometry of global trade”. Acedido a 2 de outubro de 2024.
World Trade Organization. “Trade and tariff data”. Acedido a 2 de outubro de 2024.