Estratégias de gestão de crise na cadeia de abastecimento

Com a crescente complexidade das supply chains, e com o aumento da frequência de eventos disruptivos — crises pandémicas, desastres naturais ou ataques cibernéticos, por exemplo —, é crucial, sem dúvida, que as organizações estejam preparadas para enfrentar o risco. Por conseguinte, a gestão de crise na cadeia de abastecimento assume-se, cada vez mais, como um fator imprescindível para garantir a continuidade dos negócios.

A capacidade de responder com celeridade e eficácia às disrupções na cadeia de abastecimento pode, certamente, determinar a diferença entre a manutenção das operações e uma penosa interrupção das atividades empresariais.

Mas o que é a gestão de crise na cadeia de abastecimento?

A gestão de crise na cadeia de abastecimento consiste num conjunto de práticas e estratégias desenhadas, a priori, com o desiderato de recuperar as operações de uma organização, perante fatores imprevistos que interrompam o fluxo normal de bens e serviços.

Este processo envolve, pois, um sistemático exercício de preparação e de análise de possíveis vulnerabilidades ao longo da supply chain, considerando todos os intervenientes e etapas: fornecedores e fabricantes, distribuidores e clientes finais, passando pela gestão do transporte ou da armazenagem, por exemplo. Acima de tudo, visa-se antecipar possíveis problemas e implementar estratégias que minimizem os seus impactos negativos.

Sete riscos a considerar nas cadeias de abastecimento atualmente

Num ambiente de negócios pautado pela incerteza e por uma grande multiplicidade de ameaças, importa atentar nos principais fatores que devem moldar a gestão de crise na cadeia de abastecimento. O “2023 Global Supply Chain Risk Report”, da WTW, identifica um conjunto de fatores incontornáveis neste quadro, a saber:

1. Incerteza económica

A incerteza económica — alimentada pelas flutuações dos preços e da procura, assim como pelo aumento do custo da energia e das matérias-primas — é um dos principais riscos a ponderar na gestão das cadeias de abastecimento. No relatório supracitado, este fator foi considerado um risco significativo por 32% dos entrevistados. A inflação, por sua vez, foi apontada por 26% dos inquiridos.

2. Riscos a montante

Este fator é concernente aos problemas que podem surgir nos estágios iniciais da cadeia de abastecimento, como, por exemplo, a obtenção de matérias-primas e de componentes essenciais. Ora, a dependência relativamente a fornecedores específicos para itens críticos pode, decerto, causar interrupções bastante impactantes.

Compreender e gerir esses riscos a montante é, pois, fundamental para a gestão de crise na cadeia de abastecimento. Aliás, quase metade dos entrevistados (48%) considerou essas ameaças mais preocupantes do que os riscos situados a jusante da supply chain (possíveis problemas nos estágios finais, como o transporte ou o last mile).

3. Crises pandémicas

A maioria dos entrevistados (60%) classificou a possibilidade de uma futura pandemia como uma das variáveis a priorizar na gestão de crise da cadeia de abastecimento. O estudo refere, igualmente, que os setores dos semicondutores (68%) e das energias renováveis (66%) revelam uma particular preocupação com este fator.

4. Riscos cibernéticos

Naturalmente, a crescente digitalização da cadeia de abastecimento incrementa a vulnerabilidade a ataques cibernéticos, que podem atrasar pedidos e entregas. Além disso, encerram a capacidade para paralisar todas as operações comerciais de uma organização e para comprometer dados confidenciais — fator com um impacto muito expressivo na quebra de confiança dos clientes.

De acordo com o “Supply Chain Risk Report 2024”, da Sphera, em 2023, observou-se um aumento de 62% nos problemas relacionados com a cibersegurança na cadeia de abastecimento, relativamente ao período homólogo.

5. Alterações climáticas

No verão de 2021, os incêndios florestais na Califórnia e as inundações na Alemanha, a título ilustrativo, causaram interrupções muito impactantes no transporte e na gestão de stock, comprometendo significativamente os índices de eficiência logística. Os incêndios destruíram infraestruturas críticas, como estradas e ferrovias, e as inundações submergiram armazéns e centros de distribuição, interrompendo o fluxo normal de produtos.

Ora, os eventos climáticos extremos — cada vez mais frequentes e severos — assumem-se, portanto, como um fator preponderante no presente e futuro da gestão de crise na logística.

6. Sustentabilidade

Num quadro regulatório pautado por uma crescente rigidez, a implementação de práticas éticas e ambientalmente responsáveis na supply chain é, sem dúvida, incontornável. Englobam-se aqui, por exemplo, questões como a minimização do impacto ambiental da produção ou do transporte, o escrutínio das condições de trabalho dos fornecedores ou o cumprimento das normas de responsabilidade social e ambiental.

Na gestão de crise na cadeia de abastecimento, a abordagem proativa aos riscos concernentes à sustentabilidade revela-se fulcral para evitar perdas reputacionais.

7. Geopolítica

Conflitos bélicos, tensões internacionais, restrições comerciais, sanções e bloqueios portuários: estes fatores emergem, hoje, como riscos centrais para a gestão de qualquer supply chain. Não só podem obstruir o fluxo das mercadorias, como também aumentam os custos operacionais, criam incerteza nas previsões de entrega e comprometem as condições de segurança das operações.

Como criar, passo a passo, uma cadeia de abastecimento resiliente?

Identificar e avaliar os riscos que podem afetar a cadeia de abastecimento constitui um passo fundamental para mitigar essas ameaças, garantindo assim o aumento da resiliência das operações logísticas.

Segundo o documento intitulado “Supply chain risk management is back”, da McKinsey, há quatro passos fundamentais para reduzir a exposição ao risco na gestão de crise na cadeia de abastecimento, a saber:

  1. Identificar os eventos e riscos mais relevantes que ameaçam desestabilizar as operações da cadeia de abastecimento da empresa;
  2. Definir e planear diferentes cenários e determinar a probabilidade de cada risco afetar o negócio. Dependendo do nível de exposição e da magnitude do impacto, deve então conceder-se prioridade à gestão de determinadas ameaças;
  3. Desenvolver estratégias de resposta para os riscos considerados prioritários. Para tal, deve criar-se um processo objetivo e equilibrado (equacionando a relação entre os custos e os benefícios) que permita, de facto, fortalecer a resiliência da empresa;
  4. Incorporar a gestão de crise na cadeia de abastecimento nos processos regulares de tomada de decisão e planeamento logístico. Só assim se poderá, efetivamente, criar e cimentar uma verdadeira cultura de segurança que garanta a blindagem da supply chain.

Estratégias de gestão de crise na cadeia de abastecimento

As políticas de gestão do risco na logística são, certamente, vitais para garantir a continuidade e a resiliência dos negócios perante interrupções inesperadas. Elencamos, então, algumas estratégias fundamentais neste quadro:

Diversificação das operações

Esta prática evita a dependência de um único fornecedor ou de apenas uma região, por exemplo. Garantem-se, assim, múltiplas fontes de abastecimento para as matérias-primas ou para os componentes críticos.

Para implementar esta estratégia, as empresas devem identificar e avaliar fornecedores e operadores logísticos alternativos, procurando firmar parcerias em diferentes regiões. Estabelecer diversos contratos e utilizar estratégias de fornecimento duplo, nomeando novos fornecedores ou negociando uma segunda fonte de fornecimento com o mesmo operador, ajuda na mitigação do risco.

Aumentar a visibilidade e monitorização

Melhorar a visibilidade da cadeia de abastecimento permite monitorizar e identificar riscos em tempo real. Assim é possível, por exemplo, obter informações precisas sobre a localização e o estado das mercadorias.

Para isso, as empresas devem recorrer a tecnologias como IoT (Internet of Things), entre outras, implementando sensores de rastreio dos produtos. Estes dispositivos lançam alertas relativos a possíveis disrupções, antes que se tornem críticas.

Planear cenários e fazer simulações

O scenario planning permite preparar as empresas para responderem com eficácia a múltiplas eventualidades, como desastres naturais, ataques cibernéticos, falência de fornecedores ou mudanças inesperadas no quadro regulatório, a título de exemplo.

Na gestão de crise na cadeia de abastecimento, as empresas podem utilizar softwares avançados de inteligência artificial e machine learning para realizar estas simulações e análises preditivas. Estas ferramentas facilitam, então, avaliar o impacto de determinados cenários e desenvolver planos de contingência detalhados, incluindo procedimentos específicos para diferentes tipos de disrupções. Além disso, efetuam exercícios regulares para testar a capacidade de resposta da organização a potenciais crises.

Otimizar a gestão de stock

Manter stocks de segurança ajuda a minimizar o impacto de interrupções na cadeia de abastecimento, como, por exemplo, em caso de atrasos na entrega de componentes críticos, de falhas na cadeia produtiva dos fornecedores ou de eventos imprevistos que afetem a disponibilidade de materiais.

Ao recorrer a sistemas avançados de gestão de inventário, as empresas podem, portanto, monitorizar o stock em tempo real, prever necessidades futuras e ajustar automaticamente os níveis de segurança, para garantir a prontidão da resposta a imprevistos e às flutuações do mercado.

Transferir e monitorizar o risco

A transferência de risco constitui uma estratégia eficaz para mitigar o impacto financeiro e operacional de eventos adversos, passando a responsabilidade para terceiros. Tal pode ser realizado por meio da contratação de seguros — por exemplo, com cobertura de desastres naturais ou ciberataques — ou da inclusão de cláusulas contratuais que definam responsabilidades em caso de crise. Esta abordagem ajuda a proteger a empresa contra perdas significativas e facilita uma recuperação mais rápida em situações de crise.

Além disso, é importante contar com uma equipa dedicada à gestão de crise na cadeia de abastecimento, que implemente processos de monitorização sistemática e contínua das ameaças às operações logísticas.

Pois bem, para enfrentar os desafios complexos da gestão de crise na supply chain, é essencial adotar estratégias robustas e preparar adequadamente a resposta a eventuais adversidades. Com uma vasta experiência — e uma excelência amplamente reconhecida — a equipa Rangel oferece soluções personalizadas para blindar a sua cadeia de abastecimento. Contacte-nos e dê o próximo passo na proteção das suas operações logísticas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Sphera. “Supply Chain Risk Report 2024”. Acedido a 3 de julho de 2024.
Camelot. “Supply Chain Crisis Management: How to Prepare Your Line of Defense”. Acedido a 3 de julho de 2024.
Kinaxis. “Take your supply chain from crisis management to recovery to risk mitigation”. Acedido a 3 de julho de 2024.
McKinsey. “Supply chain risk management is back”. Acedido a 3 de julho de 2024.
WTW. “2023 Global Supply Chain Risk Report”. Acedido a 3 de julho de 2024.