Quais são as consequências das alterações climáticas para as operações logísticas globais?

As consequências das alterações climáticas — como as secas extremas ou as chuvas torrenciais, a título de exemplo — emergem, inegavelmente, como uma das questões mais prementes do nosso tempo.

Todavia, desde a assinatura do Acordo de Paris em 2015, que visava limitar o aumento da temperatura a 1,5 °C acima dos níveis pré-industriais, o mundo tem observado um aumento significativo na temperatura média global. Este limite já foi, aliás, ultrapassado. Entre junho de 2023 e maio de 2024, o indicador alcançou o valor mais alto já registado (1,63 °C acima da média pré-industrial).

Além de terem, sem dúvida, um impacto negativo no planeta Terra, as alterações climáticas acarretam desafios complexos em múltiplos setores da economia. Dos danos de infraestruturas às interrupções nas operações de transporte de mercadorias, de que modo é que as consequências das alterações climáticas impactam, então, a logística mundial?

As mudanças climáticas podem causar disrupções na cadeia de abastecimento?

Sim, essa é, de facto, uma das inúmeras consequências das alterações climáticas. As cadeias de abastecimento são redes extremamente complexas, que envolvem um grupo amplo, e interligado, de atividades, processos e entidades que trabalham em conjunto para produzir e movimentar mercadorias. Assim, quando se verifica uma disrupção num desses elementos, compromete-se a eficiência operacional de toda a cadeia.

Por exemplo, se considerarmos que cerca de 80% dos produtos do comércio global são transportados por oceanos e vias navegáveis, revela-se evidente que qualquer alteração neste âmbito, tipicamente volátil, afeta a circulação de mercadorias.

Da mesma forma, a escassez de água, causada pelas secas e ondas de calor, pode interromper a produção em indústrias que dependem fortemente desse recurso, como a agricultura e os processos de manufatura.

Quais são, então, as consequências das alterações climáticas na logística?

Com o aumento da frequência e da intensidade de eventos climáticos extremos, como tempestades, inundações, secas e ondas de calor, por exemplo, as cadeias de abastecimento globais enfrentam desafios muito significativos.

De acordo com o estudo “Impacts of Climate Change on Logistics and Supply Chains”, publicado pelo Journal of Disaster and Risk, as consequências das alterações climáticas afetam muitas fases do processo logístico, nomeadamente:

1. Transporte

A crise climática está a criar desafios para a movimentação de bens, tanto entre países como dentro de fronteiras nacionais. Esses obstáculos verificam-se nos vários tipos de transporte, a saber:

Rodoviário e ferroviário

As temperaturas extremas e as chuvas intensas — algumas das consequências das alterações climáticas — contribuem para a deterioração do asfalto. Por sua vez, as inundações causam erosão, deslizamento de terras e submersão de rodovias e trilhos de comboio. Naturalmente, estes danos às infraestruturas incrementam os custos de manutenção e reduzem a eficiência das operações.

Marítimo

O aumento do nível do mar e a intensificação das tempestades costeiras representam, igualmente, um risco expressivo para o funcionamento dos portos, fundamentais para o comércio internacional. Danos nestas infraestruturas podem, pois, interromper o transporte marítimo e as cadeias de abastecimento globais. Tal aconteceu, por exemplo, em 2012, quando o furacão Sandy causou prejuízos superiores a 2 mil milhões de dólares, em virtude das disrupções nas operações portuárias de Nova Iorque e Nova Jersey.

As consequências das alterações climáticas também afetam a navegação pelos rios. A título ilustrativo, em 2018, a redução drástica do nível do rio Reno, uma importante via navegável da Europa, prejudicou o transporte entre a Alemanha, a Suíça e o porto de Roterdão. O nível da água caiu para 25 centímetros, resultando na suspensão das operações de transporte e forçando as indústrias locais a reduzir a produção durante várias semanas. Em 2022, o fenómeno repetiu-se, incrementando os custos de transporte e provocando atrasos nas entregas.

Aéreo

Mudanças nas condições atmosféricas, como ventos, tempestades e aumento das temperaturas, por exemplo, afetam as operações aeroportuárias. As consequências das alterações climáticas, que se refletem em ondas de calor ou na intensidade da pluviosidade, podem comprometer a segurança das descolagens e aterragens ou a integridade dos terminais e das áreas de suporte operacional.

Além disso, estudos mostram que até 364 aeroportos em todo o mundo podem enfrentar riscos de inundação devido ao aumento do nível do mar, causando interrupções nas operações e atrasos nas entregas.

2. Custos logísticos

Primeiramente, as interrupções das operações de transporte e distribuição — causadas por desastres naturais — podem originar atrasos significativos, exigindo que as empresas utilizem rotas alternativas ou métodos de transporte mais dispendiosos.

Ademais, a necessidade de implementar medidas que permitam consolidar a resiliência da supply chain, como o reforço de infraestruturas ou a diversificação de fornecedores, tem uma evidente repercussão nos custos operacionais.

A despesa concernente aos seguros tenderá, igualmente, a subir nas regiões mais afetadas pelas consequências das alterações climáticas, enquanto a escassez de recursos naturais pode elevar os preços de produção. Como resultado, as empresas enfrentam, sem dúvida, um quadro logístico mais volátil e dispendioso, com efeitos notórios na rentabilidade dos negócios.

3. Armazenamento e gestão de stock

Os danos causados por fenómenos climáticos severos podem, ainda, comprometer as instalações de armazenagem, resultando em perdas significativas de produtos e em custos referentes às necessidades de reparação e recuperação.

Além disso, a imprevisibilidade das condições climáticas pode dificultar o exercício de previsão das flutuações da procura, sobretudo em setores mais dependentes de fatores sazonais. Isto pode desencadear situações de escassez ou de excesso de stock, o que força as empresas a adotar práticas de gestão do inventário mais flexíveis e ágeis, aumentando assim os custos operacionais.

Operações logísticas mais resilientes às consequências das alterações climáticas

Num contexto inegavelmente desafiante, urge então investir na blindagem das operações logísticas, mitigando a sua vulnerabilidade em relação às consequências das alterações climáticas.

Por conseguinte, o futuro da logística passa, sem dúvida, por um conjunto de inovações e procedimentos que visam aumentar a eficiência, reduzir custos e otimizar a resiliência das cadeias de abastecimento. Elencamos, portanto, algumas tendências incontornáveis:

  • Elabore um plano de adaptação às alterações climáticas que identifique os fatores de risco relacionados com disrupções de índole ambiental;
  • Reduza a dependência das operações logísticas em relação a determinadas rotas de transporte ou áreas geográficas vulneráveis a eventos climáticos. Além disso, procure diversificar os fornecedores e experimente a eficácia de trajetos alternativos;
  • Incorpore tecnologias de análise de dados (big data) e inteligência artificial nas operações logísticas. Estas tecnologias viabilizam a monitorização de toda a supply chain, em tempo real, aumentando o grau de rastreabilidade e transparência em todas as fases do processo. Ademais, através das análises preditivas, incrementam a capacidade de antecipar, responder e recuperar de eventuais interrupções relacionadas com as consequências das alterações climáticas;
  • Mitigue o impacto ambiental das suas operações, adotando soluções de logística verde e práticas de economia circular. Estas estratégias aumentam a eficiência energética, reduzindo assim as emissões de carbono e o consumo de recursos naturais. Lembre-se: todos somos chamados a agir;
  • Garanta que as operações estão cobertas por seguros contra desastres naturais e outras disrupções de índole climática.

Se procura um operador logístico que o apoie na gestão de risco, garantindo uma resposta eficaz e célere às imprevisíveis consequências das alterações climáticas, contacte a Rangel. Oferecemos expertise e soluções logísticas personalizadas que garantem a resiliência das suas operações, mesmo nos momentos mais críticos. Contacte-nos e construa o futuro connosco!

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
Resilinc. “How Will Climate Change Impact Supply Chains in 2024?”. Acedido a 5 de setembro de 2024.
Learn about Logistics. “Climate Change risk factors that affect Supply Chains”. Acedido a 5 de setembro de 2024.
Economist Impact. “Climate change’s disruptive impact on global supply chains and the urgent call for resilience”. Acedido a 5 de setembro de 2024.
Yale Environment 360. “How Climate Change Is Disrupting the Global Supply Chain”. Acedido a 5 de setembro de 2024.
Journal of Disaster and Risk. “Impacts of Climate Change on Logistics and Supply Chains”. Acedido a 5 de setembro de 2024.
World Bank Group. “Moving Toward Climate-Resilient Transport”. Acedido a 5 de setembro de 2024.
Copernicus. “Hottest May on record spurs call for climate action”. Acedido a 5 de setembro de 2024.