Cadeias de Abastecimento: Caminhos para a Recuperação 8 de Maio, 2020 Rangel Logistics Solutions Logística Numa economia globalizada como aquela em que vivemos atualmente, os vários intervenientes de uma cadeia de abastecimento estão interligados entre si, ainda que se encontrem em diferentes continentes. Não obstante as vantagens desta conexão, é um facto que o atual contexto é, também, um enorme desafio para a economia. Uma grande maioria das empresas têm as suas cadeias de abastecimento preparadas para flutuações normais da oferta e da procura, no entanto, não estão preparadas para o impacto extraordinário que o atual surto do novo coronavírus trouxe, e que levou a quebras abruptas de mais de 50% da procura em muitos setores da economia mundial. No caso das empresas de transportes e logística, e de acordo com a European Logistics Association, a pandemia causada pela Covid-19 teve como principais impactos na Europa: o cancelamento de entregas, que causaram problemas a 66% das empresas alemãs, e a pelo menos 28% das empresas italianas;o decréscimo da procura e as restrições e controlos fronteiriços levaram a quebras de atividade de curto prazo de cerca de 25% a 30% neste setor. Em Portugal, de acordo com os dados disponibilizados pela ANTRAM, as empresas do setor dos transportes e logística também estão a sentir o impacto, sobretudo as que oferecem serviços de transporte internacional e fora da cadeia de abastecimento alimentar, registando perdas consideráveis de cerca de 60% na atividade em todos os tipos de transporte. Fonte: European Logistics Association e ANTRAM Verifica-se, portanto, que neste momento o sistema europeu de logística e cadeia de abastecimento está sob pressão, devido ao impacto causado pela pandemia da Covid-19, colocando à prova a capacidade de resposta das cadeias de abastecimento europeias e dos seus profissionais. Quais os caminhos que se perspetivam para a recuperação das cadeias de abastecimento? De acordo com algumas consultoras internacionais, este é o momento das empresas colocarem os olhos no futuro para definir estratégias e implementar mecanismos que lhes permita adaptarem-se ao “novo normal”. A Capgemini, multinacional francesa, apresentou o estudo “The great supply chain shock: Covid-19 response and recovery”, onde aborda dois temas que considera essenciais para o momento que atravessamos: como trazer as cadeias de abastecimento de volta à normalidade, e como deve ser preparada e executada essa recuperação do normal funcionamento. Numa primeira fase, o estudo recomenda às empresas quatro medidas: Estabelecer um centro de comando;Criar visibilidade sobre as operações e vulnerabilidades dos fornecedores e parceiros logísticos;Apoiar financeiramente fornecedores e parceiros logísticos em dificuldades;Reforçar a gestão de cash flow. Numa segunda fase, a Capgemini considera que as empresas devem: Reavaliar a procura do cliente, melhorar previsões e alinhar operações;Construir bases para o regresso às operações habituais;Apanhar o ritmo de recuperação das operações e preparar para recomeçar do zero. A consultora francesa considera que a pandemia da Covid-19 expôs algumas das mais profundas vulnerabilidades e riscos que as atuais cadeias de abastecimento (globais e conectadas) apresentam. A pesquisa considera também que, após a estabilização da situação pandémica, pode existir oportunidade para melhorar os atuais fluxos das cadeias de abastecimento através da aposta na sua digitalização, o que pode trazer mais eficácia, transparência e resiliência ao setor. Também a McKinsey, consultora americana, publicou o artigo “Responding to coronavirus: The minimum viable nerve center”, onde sintetiza as principais conclusões da pesquisa e partilha algumas medidas que as empresas devem colocar em prática para assegurar a sua resiliência no pós crise: Organização do centro de operações;Proteção da força de trabalho;Estabilização da cadeia de abastecimento;Envolvimento com o cliente;Efetuar testes de stress financeiro. Relativamente à cadeia de abastecimento, a McKinsey recomenda ainda que além do apoio à retoma das atividades dos fornecedores, as empresas devem explorar estratégias transitórias, incluindo o racionamento do abastecimento, a pré-reserva de capacidade logística (transportes rodoviário, ferroviário e aéreo), o uso de stock de pós-venda e obtenção de estatuto de alta prioridade por parte dos fornecedores. As empresas devem planear a gestão da oferta de produtos que podem estar sujeitos a picos de procura atípicos à medida que voltarem à linha. Em alguns casos, podem ser necessárias estratégias de estabilização de longo prazo, e neste caso, as empresas deverão utilizar um planeamento da procura atualizado, otimizar ainda mais as suas redes e identificar novos fornecedores. Esta abordagem pode ser garantida de forma mais geral, para assegurar a resiliência permanente da cadeia de abastecimento contra riscos que vão além da Covid-19. A consultora EY, no caderno “A crise económica da COVID 19 Factos e perspetivas, Desafios e respostas”, alerta também para a necessidade das empresas encontrarem modelos de negócio transitórios como resposta à crise económica motivada pela Covid-19. De acordo com a EY, os modelos de negócio transitórios comportam quatro movimentos de reversão de tendências fortes do crescimento económico, que importa identificar e desenvolver. São eles: Independentemente do progresso da digitalização, que encontra muitas oportunidades nesta crise, os modelos de negócio de transição não deixarão de reforçar a economia das “coisas tangíveis”, reconfigurando os modelos de consumo convencionais, em articulação com o aumento dos níveis de poupança.Os modelos de negócio de transição tenderão a privilegiar o movimento dos bens em direção às pessoas, em detrimento do movimento das pessoas em direção aos bens, reforçado pelo aumento do consumo digital e pelas entregas ao domicílio.Os modelos de negócio de transição comportarão várias formas de individualização do consumo, por redução ou anulação do consumo social.Os modelos de negócio de transição terão uma nova organização e uma nova diversidade do mundo do trabalho, envolvendo quer as dimensões de defesa e adaptação aos mecanismos do isolamento social, (de que o teletrabalho constitui um bom exemplo), quer as dimensões de alteração da especialização e revisão da gama de produtos e serviços, para aproveitar as novas oportunidades de produção e venda durante o período da emergência económica. O Boston Consulting Group (BCG) no estudo “Building the Bionic Supply Chain”, defende que a atual crise pandémica veio colocar no centro da discussão a necessidade de acelerar a transformação digital nas cadeias de abastecimento, que pode ser particularmente importante na fase de recuperação. Do ponto de vista da BCG, as empresas devem, por isso, fazer um reforço do investimento previsto para o digital, especialmente para a implementação de plataformas de automação e sistemas de análise de dados avançados. Estas ferramentas, de acordo com este estudo, vão permitir uma otimização de processos, tomada de decisões fundamentada e maior eficiência. Como o digital e a tecnologia podem ajudar na recuperação da crise:AgoraCurto PrazoMédio PrazoProtege os colaboradores,assegura a continuidade donegócio e minimiza perdasde curto prazoRecupera proactivamente osníveis de procura e o negócioà normalidadeConstrução de vantagemcompetitiva e resiliência• Tranparência baseada em analytics• Dinamiza os canais online e a procura digital• Melhorias da performance de processos através de digitalização• Analytics e inteligênciaartificial aplicada à cadeiade abastecimento• Marketing digital - personalização• Analytics para redesenhara cadeia de abastecimento• Novas formas de trabalho remoto• Planeamento dinâmico da cadeia de abastecimento• Reformulação do modelo de negócio através do digital• Plataformas de compras globais Fonte: BCG Embora não exista uma resposta absoluta que deixe claro qual deve ser o caminho a seguir para a recuperação das cadeias de abastecimento no pós pandemia, os estudos e pesquisas apresentados pelas principais consultoras internacionais têm pontos em comum, nomeadamente, a criação de uma estrutura de trabalho/equipa e a aposta na digitalização dos processos inerentes ao fluxo da supply chain. Referências Bibliográficas:“The great supply chain shock: Covid-19 response and recovery”, Capgemini, abril de 2020“Responding to coronavirus: The minimum viable nerve center”, McKinsey, março de 2020“Building the Bionic Supply Chain”, Boston Consulting Group, abril de 2020“A crise económica da COVID 19: Factos e perspetivas, Desafios e respostas, EY, abril de 2020“Covid-19: agenda para a recuperação”, Fuelsave, abril de 2020Inquérito Rápido e Excecional às Empresas – Covid-19, INE e Banco de Portugal, maio de 2020European Logistics Association, website, consultado a 08 de maio de 2020“Coronavirus: The European Logistics and Supply Chain system under the stress from Covid-19 outbreak”, The Chartered Institute of Logistics and Transport, abril de 2020 Etiquetas:cadeia de abastecimento supply chain Partilhar no Facebook Partilhar no Twitter Partilhar no LinkedIn
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