O impacto do bloqueio no Mar Vermelho na cadeia logística

O Mar Vermelho constitui, sem dúvida, uma das rotas marítimas mais importantes do mundo. Trata-se, afinal, do local onde se situa um ponto de ligação logística vital para o funcionamento das cadeias de abastecimento globais: o Canal do Suez. Por este canal passa, anualmente, 12% do comércio internacional, de acordo com a Geopolitical Monitor. Este dado permite, assim, antever o impacto que o bloqueio no Mar Vermelho terá na economia mundial.

Desde o final de 2023, a cadeia logística global enfrenta, pois, um bloqueio no Mar Vermelho. Os rebeldes houthis — norteados pela retaliação à agressão de Israel contra o Hamas — têm atacado navios de transporte de mercadorias. Por conseguinte, esta severa ameaça já levou muitos operadores logísticos a escolherem rotas de transporte alternativas, apesar dos custos mais elevados.

Perante este início de ano marcado pela instabilidade no transporte logístico, importa analisar de que modo esta incerteza está, então, a afetar o setor.

A importância da rota marítima do Mar Vermelho

O bloqueio no Mar Vermelho fez soar alarmes em todo o mundo, atendendo à sua repercussão no fornecimento de mercadorias para praticamente todas as indústrias. Sendo a ligação mais rápida e curta entre a Ásia e a Europa, esta é, sem dúvida, uma das rotas marítimas mais movimentadas do mundo. Aliás, passam pelo Canal do Suez as mais diversas mercadorias: do crude aos produtos eletrónicos, passando por bens alimentares ou automóveis, a título de exemplo.

Além disso, a travessia deste canal, na rota de transporte marítimo do Mar Vermelho, reduz em 42% a distância entre Ras Tanura, na Arábia Saudita, e Roterdão, nos Países Baixos. Ao utilizar o Canal do Suez, os navios de transporte percorrem menos 4.733 milhas náuticas do que se utilizassem a rota que contorna o continente africano, passando pelo Cabo da Boa Esperança.

Todavia, apesar da sua relevância para as cadeias de abastecimento mundiais, a região em torno do Mar Vermelho vive, atualmente, uma instabilidade geopolítica incontornável, exacerbada por conflitos armados.

O que provocou, então, o bloqueio no Mar Vermelho?

Nas últimas décadas, a região do Médio Oriente tem-se confrontado com um clima marcado por tensão e diversos conflitos latentes. Afinal, esta zona é o palco da disputa de uma série de interesses — de cariz económico, geográfico e político — entre as grandes potências mundiais. Por isso, não surpreende que o conflito entre Israel e o Hamas apresente um impacto tão profundo neste bloqueio no Mar Vermelho.

A posição estratégica dos rebeldes houthis no Iémen, no sul da Península Arábica, perto da entrada do Mar Vermelho (pelo oceano Índico), desencadeou incertezas relativamente à segurança da passagem no Canal do Suez.

Ora, a possibilidade de um conflito mais alargado na região prejudica, certamente, ainda mais a possibilidade de arrefecimento da tensão. O setor do transporte de mercadorias tem respondido, portanto, com um incremento da cautela nas suas operações.

O bloqueio do Canal do Suez em 2021

Em 2021, o transporte de mercadorias através do Canal do Suez sofreu também uma interrupção. Todavia, essa não se deveu a conflitos armados, mas sim ao resultado do encalhamento do navio Ever Given. Durante seis dias, a embarcação bloqueou totalmente o transporte por esta rota. Este episódio exerceu, assim, um enorme impacto no comércio internacional.

Na altura, as consequências revelaram-se mais imediatas, sobretudo o forte aumento do preço do petróleo. Além disso, muitas empresas acabaram por recorrer, também, à rota alternativa que passa pelo Cabo da Boa Esperança, na África do Sul. Contudo, essa situação teve uma resolução mais simples do que o atual conflito armado no Mar Vermelho.

No entanto, importa sublinhar que este novo bloqueio no Mar Vermelho não tem influenciado os preços do petróleo. Por um lado, os rebeldes houthis não têm atacado petroleiros e, por outro, as reservas globais de petróleo estão em níveis suficientemente saudáveis para suportar este choque.

Como está o bloqueio no Mar Vermelho a afetar a cadeia logística?

Desde o início dos ataques dos rebeldes houthis — que desembocaram no bloqueio no Mar Vermelho — o preço dos transportes triplicou, de acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI).

O FMI refere ainda que o tráfego de bens no Canal do Suez registou uma queda de 28%, relativamente ao ano anterior, entre 24 de dezembro e 2 de janeiro. Já o volume do tráfego de transportes ao largo do Cabo da Boa Esperança disparou 67%, durante o mesmo período.

Devido a este bloqueio no Mar Vermelho, os operadores logísticos deparam-se, portanto, com duas opções dispendiosas, a saber:

  • As empresas podem continuar a atravessar o Canal do Suez, arriscando a possibilidade de sofrerem ataques dos rebeldes houthis. Esta escolha implica a contratualização de seguros com prémios muitos mais elevados, devido ao incremento do risco associado ao transporte por esta rota;
  • Os navios de transporte de mercadorias podem, como alternativa, seguir a rota marítima que contorna o continente africano, em torno do Cabo da Boa Esperança. Contudo, importa sublinhar que este percurso apresenta cerca de 4.000 milhas extra. Tal corresponde, portanto, a mais 7-10 dias de transporte em cada direção, o que se repercute num incremento muito expressivo do preço do frete.

Um contexto pautado pela incerteza

Independentemente da escolha dos operadores logísticos, os consumidores e as empresas já estão a sentir o reflexo destes constrangimentos no aumento dos preços e nos atrasos das entregas de mercadorias.

Para salvaguardarem a sua segurança, múltiplas transportadoras têm, então, optado pela rota alternativa ao Mar Vermelho. Desse modo, pretendem evitar que o alarme se espalhe pelas cadeias de abastecimento.

Todavia, Marco Forgione, diretor-geral do Institute of Export and International Trade, citado pelo The New York Times, afirma que, perante os preocupantes desenvolvimentos do bloqueio no Mar Vermelho, começamos a assistir ao “início da weaponization das cadeias de abastecimento globais”.

Aliás, apesar de, durante semanas, os EUA terem evitado ataques ao Iémen, devido ao risco de escalada do conflito, desenvolvimentos recentes apontam para um agravamento da tensão.

Ora, após três anos de constrangimentos — devido à pandemia e ao breve bloqueio do Canal do Suez, em 2021 —, o mundo parecia aproximar-se finalmente de uma fase de recuperação. Contudo, retomando as declarações de Forgione, apesar de ainda não estarmos perante uma situação de paragem semelhante à da crise pandémica, podemos “estar a caminhar nessa direção”.

Num cenário marcado por incerteza, sem um fim à vista para este bloqueio no Mar Vermelho, importa frisar a importância de contar com operadores logísticos de confiança, que priorizem a segurança do seu negócio. Na Rangel, temos à sua disposição uma equipa especializada, pronta para encontrar a melhor solução de transporte marítimo de carga para a sua empresa. Contacte-nos.

REFERÊNCIAS BILIOGRÁFICAS:
The New York Times. “Red Sea attacks leave shipping companies with difficult choices”. Acedido a 10 de janeiro de 2024.
https://www.nytimes.com/2024/01/06/business/red-sea-shipping-houthi.html?unlocked_article_code=1.MU0.gqmD.fpkHEFO7SCMa&smid=url-share
Geopolitical Monitor. “Houthi attacks and military escalation in the Red Sea: what’s at stake?”. Acedido a 10 de janeiro de 2024.
https://www.geopoliticalmonitor.com/houthi-attacks-and-military-escalation-in-the-red-sea-whats-at-stake/
Suez Canal. “Routes & time saving”. Acedido a 10 de janeiro de 2024.
https://www.suezcanal.gov.eg/English/MediaCenter/Animations/Pages/RoutesAndTimeSaving.aspx
The Wall Street Journal. “U.S., allies give Houthis ultimatum: stop ship attacks or face consequences”. Acedido a 10 de janeiro de 2024.
https://www.wsj.com/world/middle-east/u-s-led-coalition-warns-houthis-to-stop-ship-attacks-cfd490df?mod=world_trendingnow_article_pos2
IMF PortWatch. “Trade disruptions in the Red Sea”. Acedido a 10 de janeiro de 2024.
https://portwatch.imf.org/pages/573013af3b6545deaeb50ed1cbaf9444
CNN. “US and UK carry out strikes against Iran-backed Houthis in Yemen”. Acedido a 10 de janeiro de 2024.
https://edition.cnn.com/2024/01/11/politics/us-strikes-houthis-yemen/index.html