América Latina: o potencial de uma região em desenvolvimento

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Os países da América Latina são parceiros incontornáveis da internacionalização da economia portuguesa, com os quais, desde sempre, Portugal mantém relações diplomáticas próximas através das embaixadas portuguesas em Caracas, Bogotá, Lima, Brasília, Santiago, Montevideo e Buenos Aires. A dimensão muito significativa da comunidade portuguesa na América Latina explica a existência de uma vasta rede consular.

No âmbito da União Europeia, Portugal tem sido um dos Estados-membros mais empenhados em que as relações transatlânticas e a região latino-americana permaneçam prioridades da política externa da Comunidade Europeia. Nesse sentido, Portugal tem apoiado o estabelecimento e o reforço de relações com vários Estados e grupos de países, através de diversos instrumentos e mecanismos, nomeadamente, a Parceria Estratégica com o Brasil, o Acordo de Associação UE-MERCOSUL, e a modernização de acordos de comércio entre as duas regiões.

Atualmente, são várias as empresas portuguesas que têm presença neste mercado, em áreas tão diversas como a construção, obras públicas e infraestruturas, finanças, turismo, energia, gestão de recursos hídricos, agricultura, comércio retalhista, indústria farmacêutica, ou as novas tecnologias de informação e comunicação (TIC). De acordo com o IPDAL, Instituto para a Promoção da América Latina e Caraíbas, o potencial para as relações económicas entre Portugal e estas economia é enorme, pois existem várias oportunidades, principalmente nas áreas da construção e obras públicas, consumo, novas tecnologias, energias renováveis e produtos agrícolas e agroalimentares, do mar e da floresta. Nesta última categoria de produtos, a América Latina é um dos principais parceiros económicos de Portugal.

Cerca de 80% das exportações nacionais têm atualmente a União Europeia como destino, pelo que a aposta na diversificação das exportações portuguesas tem sido um tema recorrente. O mercado latino-americano apresenta-se, por isso, como uma oportunidade para diversificar a vendas de Portugal ao exterior.

Quais os países com mais oportunidades na América Latina?

De acordo com as previsões da revista The Economist, a economia da região da América Latina e Caraíbas irá crescer cerca de 1,2% em 2020. No relatório “The World in 2020”, a revista britânica estima que o Brasil vá crescer 2%, o Chile 3,4%, a Colômbia 3,4%, o Equador 1,2%, o Paraguai 3,3%, o Peru 3,2%, o Uruguai 1,5%, a Bolívia 3,9%, e o México 0,9%. Quanto à Argentina, as previsões apontam para uma contração da economia em 2020, e um crescimento em 2021 de cerca de 1,7%.

Entre 2007 e 2017, as exportações portuguesas para a região aumentaram mais de 100%, passando de 738 milhões de euros em 2017 (1,4% do total) para 1,7 milhões em 2017 (3,1%), que segundo o IPDAL, pode representar, a médio prazo, 5% do comércio externo português.

O Brasil continua a ser o principal parceiro económico de Portugal na região, assegurando cerca de 50% do total do comércio com o continente latino-americano, mas o México, Colômbia, Peru, Chile, Equador, Uruguai e Argentina, apresentam também um crescimento nas relações económicas com Portugal.

Brasil

É o maior mercado da América Latina, o 5º país mais populoso do mundo e a 9ª economia mundial, possuindo uma população de cerca de 209,3 milhões de habitantes. Embora a instabilidade social e política em que o país tem vivido tenha repercussões na sua atividade económica, o produto interno bruto (PIB) brasileiro cresceu 1,2% em 2018, atingindo 1 867,5 mil milhões de dólares (cerca de 35% do total da América Latina). As projeções apontam para um aumento do PIB de 2,5% em 2019, impulsionado pelo investimento e pelo consumo privado.

Setores como o das telecomunicações, das energias renováveis, do petróleo (pré-sal) e gás e das infraestruturas (aeroportos e rodovias) continuam a atrair o interesse dos investidores externos, pelo que muitas empresas continuam a utilizar o Brasil como base para o desenvolvimento das suas operações na região da América Latina.

O país é um destino que continua a despertar grande interesse nas empresas portuguesas, que estão presentes em diferentes áreas de negócio, como turismo, construção e obras públicas, energia, ambiente, agroalimentar e bebidas, equipamentos e produtos industriais, componentes para a indústria automóvel, tecnologias de informação e comunicação, serviços e distribuição.

México

Trata-se da 2ª maior economia da América Latina (depois do Brasil), da 15ª maior economia a nível mundial, integrando o grupo restrito de países que tem um PIB superior a um bilião de dólares.

Fruto da elevada abertura da sua economia ao exterior, o país tem vindo a alterar de forma gradual as características do seu tecido industrial, que é constituído, na sua maioria, por pequenas e médias empresas.  

Têxtil e confeção, calçado, automóvel e aeronáutico são setores altamente competitivos, mas com oportunidades para as empresas portuguesas, nomeadamente aliando-se com empresas ou entidades mexicanas. É o que mostra, por exemplo, o setor dos moldes e da transformação de plásticos, em particular para a indústria automóvel, onde várias empresas portuguesas se estabeleceram no México nos últimos anos. No agroalimentar, realçando as características distintivas da oferta portuguesa, há oportunidades para o vinho, os queijos, as peras e maçãs, mencionando produtos que têm autorização de exportação para o México.

Argentina

Posiciona-se como a 3ª maior economia da América Latina (a seguir ao Brasil e ao México) e a 21ª economia mundial.

A Argentina tem a segunda maior área da região, boas infraestruturas e uma população com um elevado nível de literacia. O país possui uma produção agrícola muito orientada para a exportação (com um dos solos mais férteis do mundo – as planícies do Pampas – que se destacam pela alta produtividade de cereais), uma indústria de base diversificada e uma grande riqueza de recursos naturais.

O conjunto das exportações portuguesas de bens para a Argentina concentram-se em dois grupos de produtos – combustíveis minerais e máquinas/aparelhos – que, em conjunto, representaram 60% do total exportado em 2018. Por sua vez, as importações concentraram-se no grupo dos produtos agrícolas, que representou 70,8% das importações portuguesas da Argentina no mesmo ano.

Colômbia

É a 4ª maior economia e o 3º país mais populoso da América Latina. Possui uma enorme diversidade territorial, recursos naturais e energéticos, com destaque para a exploração do petróleo (uma das suas principais atividades económicas e de exportação), gás natural, carvão e energia hidroelétrica.

O PIB colombiano aumentou 2,6% em 2018 e as perspetivas do Economist Intelligence Unit (EIU) para o ano de 2019 são de recuperação (3,1%), sustentada pelo dinamismo da procura interna (associado ao aumento dos salários reais), pelo crescimento do mercado laboral e pela estabilização do preço das commodities.

Os setores que apresentam maiores oportunidades são a grande distribuição, construção e atividades adjacentes, energia, centros comerciais, transporte marítimo e fluvial e tecnologias de informação. Quanto ao grupo de produtos com maior potencial de exportação para a Colômbia, destacam-se: máquinas equipamentos e materiais dirigidos à construção civil, agricultura, exploração mineira ou atividades industriais; produtos agroalimentares e bebidas (pescado e conservas, produtos biológicos, frutas e diversos produtos secos, cervejas, vinhos, sumos e néctares); fileira casa (cerâmicas, mobiliário e decoração ou têxteis-lar); e vestuário, calçado e acessórios.

Perú

Trata-se da 5ª maior economia da América do Sul e do 2º maior produtor mundial de cobre e prata. A economia peruana reflete a diversidade topográfica do país, é um mercado emergente que consome essencialmente commodities.

As perspetivas do EIU para a economia peruana são de crescimento forte a moderado. Com um pequeno decréscimo de 0,3% relativamente a 2018, para 2019 estima-se um aumento do PIB de 3,7%, estabilização em grande parte devida à melhoria do ambiente de negócios, catalisado pelas recentes reformas estruturais promovidas pelo Governo.

Chile

É um dos países mais estáveis da América Latina em termos económicos, sociais e políticos, apresentando as melhores classificações no que se refere ao desenvolvimento humano, qualidade de vida e competitividade. Assume por isso uma posição de relevo enquanto destino de investimento estrangeiro e como potência económica mais competitiva da região.

Apesar de ser um mercado relativamente pequeno, a nível mundial, o Chile é o país com o maior número de acordos de comércio estabelecidos, o que lhe permite o acesso privilegiado a cerca de 4 300 milhões de consumidores.

A economia chilena caracteriza-se, também, por uma grande abertura ao exterior (particularmente América do Norte, Europa e Ásia) e pela especialização da produção nacional, denotando uma grande dependência dos setores nos quais dispõe de vantagens, nomeadamente no setor mineiro, (1º produtor mundial de cobre), na produção de pasta de papel, salmão (2º exportador mundial) e produtos do mar, vinhos (4º exportador e 8º produtor), frutas e legumes.

As exportações de Portugal para o Chile concentram-se em dois grupos de produtos – máquinas/aparelhos e madeira/cortiça, e as importações, por sua vez, concentram-se no grupo dos produtos agrícolas.

Equador

O Equador tem a 8ª maior economia da América Latina, e teve nos últimos anos um crescimento sustentável, chegando a posicionar-se entre as melhores economias da região. O país vive uma situação económica estável, com interesse em promover o comércio externo, atraindo investimento e eliminando barreiras protecionistas, apresentando várias oportunidades de negócio.

A economia centra-se na sua riqueza de recursos naturais, como produtos agrícolas (bananas, cacau), pecuária, mineração e indústria, sendo também um país produtor de petróleo. É um país onde se circula com facilidade, com boas infraestruturas, fator favorável ao nível da distribuição dos produtos.

O Equador é um país competitivo no que diz respeito ao fornecimento de energia e conta com um acesso sofisticado a serviços de telecomunicações. Tem implementada a rede de fibra ótica, que engloba a América do Sul e se conecta com a América do Norte e com a Europa. Este facto cria oportunidades ao nível da inovação tecnológica e do desenvolvimento de produtos com maior valor acrescentado.

Entre os principais produtos exportados pelo Equador encontram-se os combustíveis e óleos minerais, fruta, nozes, citrinos e melões, peixes, crustáceos, moluscos, carne, plantas e produtos de floricultura. Por outro lado, as categorias de produtos mais importados pelo Equador são máquinas e equipamentos mecânicos, máquinas e equipamentos elétricos, veículos automóveis e outros veículos terrestres e produtos farmacêuticos.

Uruguai

É a 12ª maior economia da América do Sul e um dos países da América Latina com maior liberdade política e melhores condições de trabalho.

Com o setor agrícola como principal motor, a economia do Uruguai sustenta-se nas exportações de carne, laticínios, grãos, e produtos florestais, encontrando-se metade da sua capacidade industrial ocupada em atividades de processamento e refinação de produtos agrícolas.

Os dados apresentados anteriormente demonstram que existe de facto um potencial económico entre os países da América Latina e Portugal que deve ser explorado. Trata-se de uma região com cerca de 640 milhões de habitantes, com uma população maioritariamente jovem, com cada vez mais formação, com abundância de recursos naturais – hídricos, alimentares, energéticos e minerais – onde a presença portuguesa já é significativa o suficiente para demonstrar que os mercados são acessíveis, interessante e que ainda não se encontram saturados.

Referências Bibliográficas:

Portal Diplomático (Governo) – Política Externa: Temas Regionais, Américas

Mercados Internacionais – Aicep Portugal Global

IPDAL – Instituto para a Promoção da América Latina e Caraíbas