Brexit: consequências para as empresas portuguesas 3 de Outubro, 2019 Rangel Logistics Solutions Exportação, Importação Aproxima-se, a passos largos, a data prevista para saída do Reino Unido da União Europeia (UE) e as incertezas sobre o Brexit e as consequências decorrentes são muitas. O desfecho das negociações entre as duas partes é incerto e, à data de hoje (5 de outubro de 2019), tudo indica que às 23 horas (hora de Lisboa) do próximo dia 31 de outubro, o Reino Unido sairá formalmente da União Europeia, passando a ser considerado um país extracomunitário. Este processo de divórcio entre Reino Unido e União Europeia terá consequências na economia da zona euro e irá impactar o negócio de centenas de empresas, nomeadamente, das empresas que têm o Reino Unido como mercado para mais de metade das suas exportações. Atualmente, em Portugal existem 228 empresas nesta situação. Em 2018, de acordo com dados do INE e PORDATA, Portugal exportou perto de 9 mil milhões de euros em bens e serviços para o Reino Unido, o que faz deste, o quarto maior mercado das exportações de bens e o primeiro mercado das exportações de serviços portugueses. O que vendemos para o Reino Unido (Em percentagem do total das exportações portuguesas no período de janeiro a novembro de 2018)Fonte: INE e Expresso De acordo com o estudo “Brexit: As consequências para as empresas portuguesas”, promovido pela Confederação Empresarial Portuguesa (CIP) e realizado pela Ernst & Young e a Augusto Mateus & Associados, Portugal está na “segunda linha” de países que mais serão afetados pelo Brexit. Este facto explica-se, em grande parte, devido à significativa exposição da economia portuguesa ao Reino Unido, o que coloca, consequentemente, as empresas portuguesas numa situação de vulnerabilidade. No curto prazo, o estudo prevê que os principais impactos do Brexit para Portugal sejam: quebra das exportações portuguesas entre 1,1% e 4,5%;redução dos fluxos de investimento direto estrangeiro entre os 0,5% e 1,9%;corte nas remessas de emigrantes entre 0,8% e 3,2% O estudo prevê ainda que, a médio e longo prazo, a alteração do quadro de relacionamento entre o Reino Unido e a União Europeia encerra um risco significativo para as exportações portuguesas de bens e serviços. Este cenário pode resultar em reduções potenciais das exportações globais entre cerca de 15% e 26%, dependendo do tipo de relacionamento comercial futuro que vier a ser estabelecido no caso de um ‘Soft Brexit’, ou se, por outro lado, o Reino Unido optar por sair do Espaço Económico Europeu sem qualquer acordo – ‘Hard Brexit’. Fluxos de Investimento Direto Estrangeiro -0,5% até -1,9% Remessas de Emigrantes -0,8% até -3,2% Exportações de Portugal para o Reino Unido -1,1% até -4,5% associados à contração da economia britânica -15% até 26% alteração quadro relacionamento UE – RU Estimativas de impacto do Brexit na economia portuguesaFonte: Estudo “Brexit: As consequências para as empresas portuguesas” Brexit: consequências e setores da economia mais afetados Ainda de acordo com o estudo, “Brexit: As consequências para as empresas portuguesas”, existem setores da economia nacional que se encontram mais expostos aos efeitos negativos do Brexit do que outros, principalmente, por dependerem das exportações para o Reino Unido. Após a saída da UE e, no caso da inexistência de um acordo bilateral, o Reino Unido poderá celebrar acordos comerciais com outros países extra-comunitários, o que colocará as empresas desses países em vantagem para assumir o abastecimento do mercado do Reino Unido, em detrimento dos produtos portugueses. Assim, os grupos de produtos com o risco mais elevado são os informáticos, electrónicos e ópticos, equipamento eléctrico, veículos automóveis, reboques e semi-reboques. Os produtos alimentares, bebidas, produtos da indústria do tabaco, têxteis, artigos de vestuário, couro e produtos afins e papel e cartão, produtos e preparados farmacêuticos, artigos de borracha e matérias plásticas, produtos minerais não metálicos, metais de base e metálicos transformados, máquinas e equipamentos e mobiliário surgem como os grupos de produtos com risco médio-alto. Risco Global Elevado Automóvel Equipamento Elétrico Informáticos / Eletrónicos Risco Global Média Alto Farmacêuticos Têxteis Vestuário Papel Couro Máquinas Borracha e Plástico Metais transformados Alimentar Metais Mobiliário Tabaco Minerais não metálicos Bebidas Setores portugueses com maior risco face ao BrexitFonte: Estudo “Brexit: As consequências para as empresas portuguesas” Existem ainda setores da economia cujo risco associado à saída do Reino Unido da União Europeia é considerado moderado ou baixo, significando isto que, não se prevê que sejam consideravelmente afetados pelo Brexit. O mesmo estudo refere ainda que o Alto Minho, Cávado, Ave e Tâmega e Sousa são as regiões mais expostas aos efeitos negativos decorrentes do Brexit na ótica da indústria. É nestas geografias que se localizam muitas das empresas especializadas no fabrico e produção dos grupos de produtos acima identificados. Já no contexto dos serviços, as empresas que se situam na Área Metropolitana do Porto, Área Metropolitana de Lisboa, Algarve e Madeira serão as mais expostas às consequências negativas do Brexit. Que oportunidades traz o Brexit para Portugal? Apesar de uma larga maioria dos estudos realizados até ao momento incidirem sobre os efeitos negativos que o Brexit poderá significar na economia dos vários países que constituem a União Europeia, assim como, na economia do Reino Unido, são, também, vários os estudos que concluem que o Brexit também deve ser perspectivado como uma oportunidade. De acordo com o estudo da CIP, referido anteriormente, são quatro os setores da economia portuguesa que poderão alcançar mais oportunidades, nomeadamente, o setor farmacêutico, alimentar, químicos e coque produtos petrolíferos. De acordo com as conclusões do estudo, estes quatro setores apresentam oportunidades efetivas, possibilitando que Portugal venha a substituir, neste contexto, outros países enquanto fornecedor do Reino Unido. Por outro lado, e apesar de o estudo considerar que os setores do Mobiliário, Máquinas e equipamentos, Artigos de borracha e de matérias plásticas e Metais de base enfrentam um risco elevado ou médio alto, destaca, também, a importância da já tradicional presença destes produtos portugueses no Mercado Único Europeu, o que pode contribuir para mitigar os efeitos negativos do Brexit. Estes setores, poderão aproveitar as oportunidades resultantes da reconfiguração do mercado interno europeu, para reforçar a sua presença não apenas no Reino Unido mas, também, na União Europeia. O setor automóvel (veículos, reboques e semirreboques), pode também tirar partido da potencial perda de posição das empresas concorrentes britânicas na UE, suplantando-as nesse mercado. Segundo o mesmo estudo, apesar do risco médio-alto associado, esta oportunidade pode compensar largamente este setor da economia portuguesa. Oportunidade para Portugal substituir importações do Reino Unido Veículos automóveis, reboques e semi-reboques Produtos alimentares Produtos químicos Produtos farmacêuticos e preparações farmacêuticas de base Oportunidade para Portugal substituir exportações do Reino Unido para outros países europeus Veículos automóveis, reboques e semi-reboques Produtos químicos Coque e produtos petrolíferos refinados Produtos farmacêuticos e preparações farmacêuticas de base Oportunidades de Portugal substituir exportações britânicas ou de outros países da UEFonte: Estudo “Brexit: As consequências para as empresas portuguesas” Portugal – Reino Unido: a mais antiga aliança diplomática do mundo ainda em vigor Para além das oportunidades identificadas para alguns dos setores da economia portuguesa, o estudo promovido pela CIP, destaca também a necessidade de Portugal estreitar relações com o Reino Unido, através da diplomacia, nomeadamente, reforçando a “Velha Aliança” entre os dois países. A Aliança Luso-Britânica nasceu em 1373 e visava aproximar as duas potências marítimas e comerciais (à data), face à ameaça que poderiam receber de potências continentais. De acordo com diplomatas e membros do governo dos dois países, nenhuma das partes revogou o acordo até aos dias de hoje, o que a torna na mais antiga aliança diplomática do mundo ainda em vigor. Recentemente, o primeiro ministro português, António Costa, afirmou em entrevista que Portugal é “o mais antigo aliado do Reino Unido” e que o “Reino Unido continua a ser o nosso [Portugal] aliado militar mais importante e um dos nossos parceiros económicos mais importantes”. Portugal deve, por isso, investir na renovação da Aliança Luso-Britânica para assegurar uma relação estável com o Reino Unido após o ‘Brexit’, respeitando, sempre, as regras europeias para os acordos bilaterais. Numa altura em que as negociações entre Londres e Bruxelas continuam tensas e sem acordo à vista, pode revelar-se fulcral garantir a estabilidade da relação histórica entre os dois países. Uma aproximação estratégica ao Reino Unido permitiria a Portugal explorar a oportunidade das empresas portuguesas substituírem, enquanto fornecedores do Reino Unido, produtos exportados por congéneres da União Europeia, reforçando a integração em cadeias de valor ancoradas no Reino Unido. Paralelamente, ao ter uma maior ligação ao Reino Unido, o país poderia garantir também a atracção de investimento direto, daquela que é a quinta maior economia do mundo. O estudo promovido pela CIP, alerta para o facto do Brexit, no curto-médio prazo, se revelar um processo que trará perdas para ambos os lados – Reino Unido e União Europeia – e para a necessidade de Portugal ser pró-ativo na valorização do Reino Unido como parceiro económico, no sentido de mitigar a materialização dos riscos e potenciar as oportunidades. Por outro lado, as empresas portuguesas devem também assumir a responsabilidade de seguir de perto as negociações e o desenrolar do processo de saída do Reino Unido da União Europeia, procurando parceiros capazes de as aconselhar, encaminhar e propulsionar os seus negócios com o Reino Unido. Referências Bibliográficas:“Brexit: As consequências para as empresas portuguesas” promovido pela Confederação Empresarial Portuguesa (CIP) e realizado pela Ernst & Young e a Augusto Mateus & AssociadosApresentação do estudo “Brexit: As consequências para as empresas portuguesas” promovido pela Confederação Empresarial Portuguesa (CIP) e realizado pela Ernst & Young e a Augusto Mateus & Associados Etiquetas:brexit Partilhar no Facebook Partilhar no Twitter Partilhar no LinkedIn
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